A partir de terra ou barco com recurso a uma teleobjectiva, do ar com um drone ou na água utilizando uma caixa estanque, este é realmente o estúdio fotográfico perfeito para fotógrafos de surf, como podem verificar pelas imagens na galeria
Tempo
Foi há um ano, mas coisa menos coisa, que a Leonor entrou em contacto comigo. Queria usar parte do valor que os seus patrocinadores lhe davam anualmente, para investir na sua imagem e alcançar mais e melhor visibilidade nas redes sociais, numa lógica de se valorizar a médio/longo prazo. Pareceu-me um bom plano e uma lufada de ar fresco por comparação com o pedido tantas (demasiadas) vezes ouvido: “Não me arranjas umas fotos? É só para o insta!”
Resolvemos então experimentar um novo modelo de trabalho: em vez de esperarmos pelas condições ideais para fotografamos num determinado dia, acordámos um conjunto de dez sessões, sem um prazo definido. Podíamos fazer 2 sessões num dia só, ou uma sessão por mês…o que fosse, seria em função das disponibilidades de cada um e, claro, da de Neptuno e de São Pedro. Trabalhando assim, ganhámos algo muito valioso: tempo para nos conhecermos. Bem sei (e percebo) que a pressa e o imediatismo estão in, mas eu continuo a acreditar que o tempo que dedicamos a quem nos rodeia ou, no caso, a quem fotografamos, faz toda a diferença para o resultado final. Não sendo nem eu nem a Leonor marcianos, fomos gerindo o processo como seres humanos do século XXI: à medida que as imagens aconteciam, partilhávamos nas nossas redes sociais. Mas foi graças ao luxo do tempo, que percebi que a Leonor tem planos bem definidos para a sua vida. Foi também sem amarras aos ponteiros do relógio, que descobri que por trás de uma certa reserva - talvez timidez - há um sorriso que de vez em quando escorrega cá para fora. Foi nos tempos mortos, enquanto esperávamos pela maré e partilhámos um almoço no areal de Santa Rita, que demos espaço para que aquela praia nos recompensasse umas horas depois com um pôr-do-sol digno de uma planície africana. Foi também por termos tempo (das poucas coisas que vale realmente a pena ter) que fui percebendo o ritmo do seu surf e ela foi compreendendo as minhas divagações fotográficas. Agora, quase a finalizar este processo, ficam as memórias de dias bem passados.
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R5 - Fotografia de Surf
“The best camera is the one you have with you.” é uma frase bonita mas onde um fotógrafo tem dificuldade em colocar um ponto final. Talvez fizesse mais sentido com uns parênteses onde se pudesse incluir a câmara dos nossos sonhos. Para mim seria uma câmara leve e pequena, que fizesse sequências de pelo menos 12fps, com resolução suficiente para que a questão da falta da mesma não se colocasse e com um sistema de focagem rápido e preciso. Essa sim, seria então a minha melhor câmara. Porquê?
1) Dimensões: uma câmara leve e compacta vai estar quase sempre comigo, seja em trabalho ou em lazer, por oposição a uma câmara grande e pesada.
2) Velocidade: 10 a 12 frames por segundo é o que considero como mínimo para fotografar ondas e surf dentro de água. É perfeitamente possível fazê-lo até sem sequências, mas para trabalho profissional quero garantir que tenho “O” momento.
3) Resolução: 20 milhões de pixels de resolução chega e sobra para uma boa parte dos trabalhos que vão surgindo, mas se posso ter o dobro da qualidade que me permite - por exemplo -vender prints de grandes dimensões para decoração de interiores, então why not? Yes please!
4) Auto-foco: Claro que para alguns tipos de fotografia (produto, paisagem, etc) o auto-foco não é um factor a ter em conta, mas para quem fotografa desporto e natureza, muitas vezes é a diferença entre termos a fotografia ou não. Por isso, para mim, a qualidade do auto-foco é um factor decisivo.
Não sendo habitual escrever sobre temas tão técnicos, desta vez não podia ser de outra forma, porque a Canon lançou recentemente a câmara que, há uns anos, disse-me um professor de fotografia digital, “não existe nem vai existir”. O senhor felizmente estava errado. São 20 frames por segundo, 45 milhões de pixels, um auto-foco de sonho e tudo isto numa estrutura compacta e leve. Melhor ainda, as minhas objectivas EF funcionam na perfeição, não me obrigando a fazer já o investimento extra nas novas objectivas da série RF. Esta maravilha tecnológica chama-se Canon EOS R5 e a primeira vez que ouvi falar dela, percebi que o assunto era sério e merecia um mergulho (literal e figurado) no tema. Entre estruturar o projecto, emails e telefonemas, ter o ok da Canon Portugal e da Wave Solutions Waterhousings para trabalharmos em direcção à primeira caixa estanque (para fotografia de surf) a nível mundial para a R5 e conseguirmos as primeiras imagens, foi um passo com milhares de passos pelo meio, mas percorria-os todos outra vez sem pensar duas vezes. Sem pensar, até.
Claro que há muito mais para contar e a seu tempo lá iremos, mas para não tornar este post demasiado longo, vou fazer um fast forward e dizer que a câmara não só não desiludiu, como até surpreendeu, superando todas as minhas expectativas, especialmente na velocidade do auto-foco e na qualidade dos ficheiros. O trabalho do Nuno Cardoso da Wave Solutions, como habitualmente, é de uma qualidade irrepreensível. A nova caixa tem uns acabamentos ainda melhores que as anteriores, comandos que permitem aceder a todas as funções e, tal como a R5, peso e dimensões reduzidas que facilitam e muito o trabalho dentro de água.
Com o Outono aí à porta, não vão faltar oportunidades para continuar a explorar as potencialidades da R5 na água e em terra com as novas RF 100-500mm e a RF 800mm, mas para já ficam as imagens de uma manhã de Verão na companhia do Diogo Appleton e um obrigado à Canon Portugal pela oportunidade.