Seja pela envolvente (Serra de Sintra, Praia do Guincho, Quinta da Marinha), seja pelo cuidado colocado em todos os pormenores, não podia pedir melhor cenário para trabalhar.
R5 - Fotografia de Surf
“The best camera is the one you have with you.” é uma frase bonita mas onde um fotógrafo tem dificuldade em colocar um ponto final. Talvez fizesse mais sentido com uns parênteses onde se pudesse incluir a câmara dos nossos sonhos. Para mim seria uma câmara leve e pequena, que fizesse sequências de pelo menos 12fps, com resolução suficiente para que a questão da falta da mesma não se colocasse e com um sistema de focagem rápido e preciso. Essa sim, seria então a minha melhor câmara. Porquê?
1) Dimensões: uma câmara leve e compacta vai estar quase sempre comigo, seja em trabalho ou em lazer, por oposição a uma câmara grande e pesada.
2) Velocidade: 10 a 12 frames por segundo é o que considero como mínimo para fotografar ondas e surf dentro de água. É perfeitamente possível fazê-lo até sem sequências, mas para trabalho profissional quero garantir que tenho “O” momento.
3) Resolução: 20 milhões de pixels de resolução chega e sobra para uma boa parte dos trabalhos que vão surgindo, mas se posso ter o dobro da qualidade que me permite - por exemplo -vender prints de grandes dimensões para decoração de interiores, então why not? Yes please!
4) Auto-foco: Claro que para alguns tipos de fotografia (produto, paisagem, etc) o auto-foco não é um factor a ter em conta, mas para quem fotografa desporto e natureza, muitas vezes é a diferença entre termos a fotografia ou não. Por isso, para mim, a qualidade do auto-foco é um factor decisivo.
Não sendo habitual escrever sobre temas tão técnicos, desta vez não podia ser de outra forma, porque a Canon lançou recentemente a câmara que, há uns anos, disse-me um professor de fotografia digital, “não existe nem vai existir”. O senhor felizmente estava errado. São 20 frames por segundo, 45 milhões de pixels, um auto-foco de sonho e tudo isto numa estrutura compacta e leve. Melhor ainda, as minhas objectivas EF funcionam na perfeição, não me obrigando a fazer já o investimento extra nas novas objectivas da série RF. Esta maravilha tecnológica chama-se Canon EOS R5 e a primeira vez que ouvi falar dela, percebi que o assunto era sério e merecia um mergulho (literal e figurado) no tema. Entre estruturar o projecto, emails e telefonemas, ter o ok da Canon Portugal e da Wave Solutions Waterhousings para trabalharmos em direcção à primeira caixa estanque (para fotografia de surf) a nível mundial para a R5 e conseguirmos as primeiras imagens, foi um passo com milhares de passos pelo meio, mas percorria-os todos outra vez sem pensar duas vezes. Sem pensar, até.
Claro que há muito mais para contar e a seu tempo lá iremos, mas para não tornar este post demasiado longo, vou fazer um fast forward e dizer que a câmara não só não desiludiu, como até surpreendeu, superando todas as minhas expectativas, especialmente na velocidade do auto-foco e na qualidade dos ficheiros. O trabalho do Nuno Cardoso da Wave Solutions, como habitualmente, é de uma qualidade irrepreensível. A nova caixa tem uns acabamentos ainda melhores que as anteriores, comandos que permitem aceder a todas as funções e, tal como a R5, peso e dimensões reduzidas que facilitam e muito o trabalho dentro de água.
Com o Outono aí à porta, não vão faltar oportunidades para continuar a explorar as potencialidades da R5 na água e em terra com as novas RF 100-500mm e a RF 800mm, mas para já ficam as imagens de uma manhã de Verão na companhia do Diogo Appleton e um obrigado à Canon Portugal pela oportunidade.
Saca (que filme)
O ponto de partida: uma fotografia que tirei a um ilustre desconhecido no Chile em 2013 e que chamou a atenção do realizador do documentário “Saca - O filme de Tiago Pires” que me pediu para tentar reproduzir a mesma situação na costa portuguesa, mas desta vez com o Tiago como modelo.
Claro que a fotografia original não era só mais uma (nunca são) e que a forma como foi captada implicava uma série de condições difíceis de reproduzir noutro tempo e noutro local. Afinal, é mesmo essa a magia da fotografia: permitir reviver o que já não se repete. Sabendo tudo isto de antemão e estando a par da descontração habitual do realizador carioca Júlio Adler perante as pedras no caminho, procurei uma praia onde pudesse reunir condições tão próximas quanto possível do local da primeira imagem. A saber:
1) Areal com uma inclinação inversa ao habitual, ou seja, estando a fotografar no sentido terra - mar, ficar num plano inferior ao do surfista a caminhar à beira-mar.
2) Contra luz directo a partir do meio da tarde - pretendia-se uma silhueta do surfista com o sol a entrar no enquadramento.
3) Praia perto de Lisboa que estivesse quase deserta num dia solarengo de Primavera e com areia lisa sem pegadas, para evitar despesas de pós-produção.
A juntar a estes requisitos, seria preciso ainda conjugar as agendas de todos os envolvidos - Tiago Pires, Júlio Adler, Isabel Corte-Real, Pedro Falcão e Ricardo Capristano.
Depois de analisadas várias hipóteses, acabei por escolher o Guincho, onde consegui uma zona de areal com a inclinação certa, o sol no ângulo mais adequado e uma praia deserta graças ao intenso vento gelado de norte tão característica desta praia, que serviu ainda para adicionar algum drama às imagens captadas, e alguns momentos de desespero para quem estava a tentar manter as câmaras estáveis e as objectivas limpas…