O ponto de partida: uma fotografia que tirei a um ilustre desconhecido no Chile em 2013 e que chamou a atenção do realizador do documentário “Saca - O filme de Tiago Pires” que me pediu para tentar reproduzir a mesma situação na costa portuguesa, mas desta vez com o Tiago como modelo.
Claro que a fotografia original não era só mais uma (nunca são) e que a forma como foi captada implicava uma série de condições difíceis de reproduzir noutro tempo e noutro local. Afinal, é mesmo essa a magia da fotografia: permitir reviver o que já não se repete. Sabendo tudo isto de antemão e estando a par da descontração habitual do realizador carioca Júlio Adler perante as pedras no caminho, procurei uma praia onde pudesse reunir condições tão próximas quanto possível do local da primeira imagem. A saber:
1) Areal com uma inclinação inversa ao habitual, ou seja, estando a fotografar no sentido terra - mar, ficar num plano inferior ao do surfista a caminhar à beira-mar.
2) Contra luz directo a partir do meio da tarde - pretendia-se uma silhueta do surfista com o sol a entrar no enquadramento.
3) Praia perto de Lisboa que estivesse quase deserta num dia solarengo de Primavera e com areia lisa sem pegadas, para evitar despesas de pós-produção.
A juntar a estes requisitos, seria preciso ainda conjugar as agendas de todos os envolvidos - Tiago Pires, Júlio Adler, Isabel Corte-Real, Pedro Falcão e Ricardo Capristano.
Depois de analisadas várias hipóteses, acabei por escolher o Guincho, onde consegui uma zona de areal com a inclinação certa, o sol no ângulo mais adequado e uma praia deserta graças ao intenso vento gelado de norte tão característica desta praia, que serviu ainda para adicionar algum drama às imagens captadas, e alguns momentos de desespero para quem estava a tentar manter as câmaras estáveis e as objectivas limpas…